quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Ao (com)passo de Chuva


Lembro de precisar puxar as mangas para mais perto do pulso para suportar o frio que fazia em mim nessas mil tempestades pelas quais passei. Eu não sabia como conseguir meu guarda-chuva. Então, vez ou outra, alguém me ofereceu o seu, mas sabe... Eu nunca soube andar no mesmo guarda-chuva que outra pessoa. Ficamos os dois batendo os ombros e as pernas e as idéias e as vontades e nunca dava certo: alguém sempre se molhava e então eu dizia que aqui-estava-bom-obrigada-por-isso e saia novamente pra a chuva.

Então finalmente aprendi como se conseguia um e procurei andar sempre com o meu. Sempre que a chuva vinha, o abria e me enclausurava ali. Procurava abaixá-lo de tal modo que ninguém pudesse ver os meus olhos aflitos da tristeza de não saber dividir o meu espaço com ninguém.
Permaneci assim por um tempo que nem eu saberia contar.

Veja bem, essa minha prisão em mim não significa que outras pessoas não tenham tentado me fazer dividir meu guarda-chuva com elas. Bem, o problema é que de tanto saber e demonstrar que não sei dividir minha proteção com ninguém, elas acabavam andando na chuva ao meu lado, mas nunca comigo. Aos poucos, quase todo mundo foi procurar outro guarda-chuva e o meu continuo guardando apenas a mim.

Então, as chuvas aumentaram, os raios se tornavam mais claros e os trovões mais barulhentos, as ruas cada vez mais desertas e a água cada vez mais alta em minhas pernas. Sozinha, eu aprendi a não precisar de mais ninguém além de mim. Aprendi a caminhar com as próprias pernas, as próprias convicções, os próprios sonhos.

E quando finalmente pensei que tinha me perdido plenamente dentro de mim, uma sombra arrastou-se ao meu lado. E eu ri quando vi que seu guarda-chuva era tão turvo e gasto quanto o meu. Nós dois, num mesmo passo arrastado e cansado demais de toda essa caminhada, cada qual com sua própria proteção. E aos poucos fui deixando que ele se aproximasse, embora as hastes sempre batessem umas nas outras.

Foi então, anjo, que me ocorreu a ideia de jogar fora aquele guarda-chuva velho. Eu o abaixei, coloquei-o no chão e senti os fios da água penetrando minhas vestes e meu cabelo. E descobri que gostava daquela sensação. Estendi a mão, esperando que a tua encaixasse na minha, só que pra isso tu precisaria largar o cabo do teu guarda-chuva também. Espero que largue porque descobri enfim que o segredo não é saber dividir o guarda-chuva com ninguém, mas saber com quem é divertido andar pela chuva.




NOTA; nunca fui boa com crônicas e o primeiro que leu esta não gostou. 
Como sou insistente, postei. O texto deve agradar primeiro a quem escrever, depois seus leitores. Só assim será sincero. 

4 comentários:

  1. Essa pessoa merece apanhar, haha. Mas você está certa, o texto precisa agradar primeiro ao autor para ser sincero. Alias, a cronica está otima, ameeeei (:

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  2. Nem todo mundo vai gostar dos seus textos, isso é natural. Não faço parte do grupo da primeira pessoa que leu. Gostei. Gosto muito dos seus textos!

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  3. Amei sua crônica, realmente muito expressiva, bonita, sutil. Adorei teus escritos.

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  4. Adoro seus textos garota *-* A crônica está maravilhosa mesmo! Linda!

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