De verde essa cidade só tem a
intenção. Toda a esperança e beleza fora asfaltada, pseudo-urbanizada, e agora
padece de calor como eu e todos esses rostos que não conheço, não memorizo, não
me interesso.
Então visto todos os dias a doce
esperança que algo novo aconteça, que alguém interessante surja ou que pelo
menos o tédio se atenue. Mas, tudo que vejo é uma repetição do mesmo, o eterno ciclo
dessa vida vazia e burguesa, que não me apraz, não me dar espaço sequer para
parecer aquilo que realmente sou.
Visto também a máscara da sociabilidade,
a máscara de que tudo aquilo é bom enquanto sacrifico minhas atitudes tendo em
mente apenas às consequências das minhas ações. "Que preço minha subjetividade
pagará daqui a uns anos por toda essa incoerência?" sempre penso em toda aula de psicologia.
Isolo-me entre as paredes brancas desse
apartamento, na companhia do silêncio que nem eu, nem meu hamster ousamos
quebrar. É confortável imaginar que aqui dentro tudo parece tão distante lá de
fora. Como se essas paredes fossem o anexo do mundo que criei dentro de mim,
mundo esse onde respiro aliviada de saber que ainda existo, embora apenas
dentro de mim ou dessas paredes.
Algumas vezes deixo que pessoas –
dessas que me causam a impressão de merecer – invadam minha morada e minha alma. E todas às vezes as vezes partir de novo pra não voltar. Decidi
então que não trarei a esse anexo ninguém que seja apenas superficialmente
merecedor. Aqui agora só entrará quem de fato estiver disposto a decifrar minha
alma e suas incoerências constantes e – especialmente – quem estiver disposto a
usar esse conhecimento e não ir embora (tão cedo).
Termino os parágrafos e o café
sorrindo, embora tamanha dor me assole, porque sei que em algum lugar desse
mundo tão vasto, qual a mim, alguém me deseja decifrar e cuidar, mesmo que
sequer me conheça ainda. Num mundo tão vasto e deserto como esse, há sim de
haver alguém que erre como eu.