quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Super ação, superação II


Hoje teu cheiro de roupa lavada, pele quente e cafeína tomou carona nessa brisa só pra me dizer que não vai ser tão fácil assim viver sem ti sentir. Parei de respirar por uns instantes até ela passar, então. Sinceramente, nem tenho mais pensado a respeito. Arrumei um veneno mais forte que tem servido de antídoto para o que não tem mais cura, razão ou existência.

Não vou correr o risco de quebrar novamente. Nas tuas mãos cruéis não deposito mais meus sentimentos. Tomei repudio de nós. Tomei repudio do que nossa união faz comigo. Tomei pra mim o único modo de não te querer mais aqui porque eu sei que dói.

Isso não significa que teu cheiro não ficou em mim, nem que eu ainda possa sentir os fios macios do teu cabelo entre os meus dedos ou o brilho medonho dos teus olhos verdes-cobra ou minha unhas ligando teus sinais com marcas vermelhas, significa só que, antes de dormir, ao invés de te desejar aqui, eu penso em qualquer coisa bela que não dói.

Poemizei a dor, o desprezo e o abandono. Escrevi meus sentimentos pra eternizar a idiota que sou, bem como pra aprender com ela. Diferente de ti, eu não quero mais ficar só. Cansei de ser eu-sozinha, anjo, cansei de ser nós e continuar sendo apenas eu-sozinha.

Agora eu vou atrás de algo belo que valha a pena.

Teu cheiro guardo junto com as outras lembranças no fundo do baú velho no sótão dos pensamentos, pra contar daqui uns anos à quem desejar ouvir. O brilho dos teus olhos já não me ilumina mais.

Notei, enfim, que por mais duro que seja sem ti, não é impossível.

Até um dia, até talvez, até quem sabe... ♪

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Suck it and see, You [and I] never know


Era o modo confortável com que os meus problemas se encaixavam na curva do pescoço dele que me fazia pensar que eles não era tão problemáticos assim. E a vodca e o vinho tinham me deixado tonta (ou era ele e eu só não queria admitir) enquanto o café do cheiro dele me fazia ter vontade de ter alguma caneta e papel pra eternizar aquilo do único modo que sei. 

Ele não parava de falar, o que me deixava ficar só olhando do jeito analítico que ele não gosta que eu faça, mas sinceramente que gosto porque me desafia a procurar algo nele que não agrade e pelo que percebi é fácil ver um milhão de coisas que me deixariam irritada, mas que agora não tem tanta importancia assim. 

Não quero que a sensibilidade do meu pescoço volte e prefiro pensar que aquela sensação de derretimento e arrepio em mim quando os lábios dele tocam a minha pele é só por causa do frio da madrugada, não pelo frio que agora mora dentro da minha barriga, congelando as borboletas de outrora.

Sinceramente estou apavorada porque tenho quase certeza que te quero aqui. 
E não quero que esse seja o motivo da tua fuga. 

Eu assusto as pessoas, já notou, escorpião? Mas, não te apavora. Eu fui feita pra partir teu coração, como te avisei notei passada, assim como tenho percebido que também fui feita para colá-lo junto com os pedaços do meu. Decidi misturar nós dois que é pra ver se um coração com duas partes distintas é menos quebrável. 

Notou minha rendição? Coloquei as armaduras de lado, me deixei beber teu veneno. Gostei. Gostei mais que da vodca, que do vinho. E cá te apresento meu eu mais puro, sem os murros que eu deixei de construir pra prestar atenção em ti.

E hoje eu senti vontade de te ter aqui, 
Assim como desisti de lutar pra que essa vontade passe. 


I poured my aching heart into a pop song
I couldn't get the hang of poetry
That's not a skirt girl
that's a sawn off shotgun
And I can only hope
you've got it aimed at me ♪

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

(Ele é de) Escorpião


Eu falei que te escreveria algo, R.P.

É que agora tudo aqui dentro de mim parece um grande deserto e eu preciso vestir essa armadura enferrujada e desconfortável enquanto construo novamente os murros de proteção contra as tempestades de areia que entram em meus olhos e não me permitem enchergar de verdade as coisas ao redor.

E eu encontrei um escorpião. Tenho deixado que ele viva por perto, aqui no ombro da minha armadura, sussurrando umas coisas bonitas que não escuto direito e me dão vontade de retirar o capacete pra ouvir melhor. Aí lembro que ele é um escorpião e mudo logo de idéia.

Sinceramente estou cansada de precisar vestir essa armadura enferrujada que já não me cabe todas as vezes que alguém me decepciona. Estou cansada de construir esses murros ao redor de mim pra me proteger de tudo.

Então me lembro do escorpião.

Ali, parado no meu ombro esperando que eu tire qualquer parte da armadura pra então atacar. Seduzindo-me com qualquer poema doce, com qualquer música suave. E tem sido assim, então: eu amenizo tua dor que é pra tu me distrair da minha, escorpiãozinho.

E quer saber? Talvez vista meu melhor sorriso suicida em breve. Talvez eu tire mesmo o capacete de metal, ou a luva enferrujada, e te deixe me dar alguma dose desse teu veneno. Mas, enquanto eu não o faço, fico aqui montando esses meus círculos de fogo e te colocando dentro deles comigo. E mesmo assim tu permaneces sem se suicidar.

Sabe, escorpião, eu tenho gostado todo dia mais da tua companhia e isso me apavora. Eu brinco com fogo, eu brinco com venenos, eu brinco com o teu querer. Escrevo essas metáforas pra não ser sincera e dizer que te quero, bem como dizer que também me apavora saber que eu quero outro veneno. Eu ainda nem me curei das outras doses daquele que vem me matando todo dia e já quero experimentar outro.

Então, enquanto eu não consigo tirar a armadura, continua sussurrando essas coisas doces e espera. Uma hora eu canso dos círculos de fogo. Uma hora eu canso de ser só e te deixo chamar isso que temos de Nós.


Tenho falado tanto de venenos que não me surpreende 
que sejas um escorpião a cura das minhas dores.