Hoje teu cheiro de roupa lavada, pele quente e cafeína tomou carona nessa brisa só pra me dizer que não vai ser tão fácil assim viver sem ti sentir. Parei de respirar por uns instantes até ela passar, então. Sinceramente, nem tenho mais pensado a respeito. Arrumei um veneno mais forte que tem servido de antídoto para o que não tem mais cura, razão ou existência.
Não vou correr o risco de quebrar novamente. Nas tuas mãos cruéis não deposito mais meus sentimentos. Tomei repudio de nós. Tomei repudio do que nossa união faz comigo. Tomei pra mim o único modo de não te querer mais aqui porque eu sei que dói.
Isso não significa que teu cheiro não ficou em mim, nem que eu ainda possa sentir os fios macios do teu cabelo entre os meus dedos ou o brilho medonho dos teus olhos verdes-cobra ou minha unhas ligando teus sinais com marcas vermelhas, significa só que, antes de dormir, ao invés de te desejar aqui, eu penso em qualquer coisa bela que não dói.
Poemizei a dor, o desprezo e o abandono. Escrevi meus sentimentos pra eternizar a idiota que sou, bem como pra aprender com ela. Diferente de ti, eu não quero mais ficar só. Cansei de ser eu-sozinha, anjo, cansei de ser nós e continuar sendo apenas eu-sozinha.
Agora eu vou atrás de algo belo que valha a pena.
Teu cheiro guardo junto com as outras lembranças no fundo do baú velho no sótão dos pensamentos, pra contar daqui uns anos à quem desejar ouvir. O brilho dos teus olhos já não me ilumina mais.
Notei, enfim, que por mais duro que seja sem ti, não é impossível.
Até um dia, até talvez, até quem sabe... ♪