Há sempre música vinda de algum lugar do meu quarto.
E inevitavelmente penso nele. É, aquela ex-paixão que sentava comigo em qualquer lugar - sempre de madrugada - e fazia-me sentir a pessoa mais especial do mundo, só por ter alguém pra dividir a madrugada comigo.
Claro que eu ainda não esqueci.
Se um dia você descobrir como se deixa de amar, me avise.
Mas, não, ao contrário do que a maioria dos meus amigos deve pensar, eu não continuo apaixonada por ele. Não, isso já se foi faz um bom tempo. Às vezes me deparo perguntando se ainda sinto algum sentimento - amor, raiva, pena, qualquer um - por ele. Nunca achei uma resposta. Acho que não alimento mais nada sobre aquele amor. Nada, além dessas lembranças, é claro.
Eu continuo apaixonada pelas boas lembranças que - é, eu sei, eu sei - não vão voltar. Eu sinceramente gosto das lembranças. Não de todas, é claro, mas guardei umas realmente boas. E inevitavelmente, eu sempre associo madrugada aquela sensação de me sentir amada por ele; ao modo como eu me sentia quando ele me abraçava; ao meu riso cortando o silêncio; dele, só alguns vultos, nada demais.
Eu sinto saudades mesmo era de me sentir como eu me sentia naquelas madrugadas.
Saudades não, eu quero aquelas sensações novamente.
Só que dessa vez, eu vou fazer as coisas darem certo; Dessa vez, eu vou fazer com a pessoa incerta. Porque, é, ele não tinha nenhum defeito como a pessoa perfeita pra mim e foi exatamente por isso que não deu. Porque eu não estou procurando a pessoa certa.
Estou procurando a pessoa errada.
A pessoa errada daqueles versos tortos de Veríssimo.
Porque, pensando bem, é, olhando assim com vontade, a pessoa certa não existe.
E enquanto minha pessoa errada não chega, eu vou continuar me deixando respirar madrugadas, e sentimentos, e erros, e vontades, e toques que nunca mais serão meus, mas estarão pra sempre comigo.