Solidão a dois não me
interessa. Jamais entenderei esses casais conformados que preferem a comodidade
de um relacionamento que não os transborda. Convenhamos, não vale a pena ter ao
lado gente que te preenche. Ninguém é metade de fruta alguma pra precisar de
outra metade. Ninguém é incompleto. Todo mundo é corpo inteiro que precisa de
outro corpo inteiro. Não que necessariamente encaixe, mas que esteja ao lado.
Não uma metade, mas um companheiro.
Fiz da minha solidão uma
boa companhia. Tomamos café e ouvimos algo bom sempre que posso. Não me apetece
quem me tira sua companhia e não oferece uma substituta a altura. É triste
imaginar uma solidão mesmo acompanhada.
Veja bem, a maioria das
solidões é formada por medos. Medo de ficar sozinho consigo mesmo e descobrir
coisas que nem mesmo você gostaria de saber sobre si mesmo, quanto mais que
alguém saiba. Poucas coisas são tão assustadoras quando o monstro interior.
Corajoso mesmo é quem conhece bem a si mesmo e aceita. Transparece.
Transferir tais medos e
projetar noutro alguém aquilo que se deseja ser já matou muitos amores bonitos.
O Amor é destinado, essencialmente, aos corajosos. Aos já preenchidos por si
mesmos. Aos que abraçam a solidão como uma amiga. Que riem sozinhos. São esses
risos que atraem. O Amor-ao-outro chega apenas quando o Amor-próprio já fez
morada.