Não fui
feita pra multidões. Vivo como que um livro exposto numa praça. Como que sempre
disposta, sempre aberta a quem quiser (me) ler. Só que, embora seja um livro
aberto, estou escrita numa língua que quase ninguém sabe decifrar. Uma runa
antiga, tão antiga que somente este ou aquele conseguem decodificar.
Gosto de
pensar que sou como os livros de Clarice: poucos leem e quase ninguém entende
de verdade. Sou um mistério até pra mim. Mas, de fato, estou aberta àqueles que
interesse em saber mais. E venho por anos, eu mesma, tentando me ler, pra ver
se ajudo as pessoas a interagirem melhor comigo. Na maioria das vezes me perco
como todo mundo.
Em essência,
sinto que talvez eu não faça nem sentido mesmo. Talvez seja só um amontoado de
palavras e sensações, mas que faça as pessoas sentirem de tal forma que passo
certa beleza.
Um livro
aberto.
Um livro
aberto que ninguém consegue ler.
Um livro
aberto a (quase) ninguém.