sexta-feira, 30 de março de 2012

Domingo


Texto antigo cujo nem poderia (nem queria) ser publicado, 
mas acho desperdício que ninguém veja

Então me olhas com esse teu olho cuja cor ainda não decifrei - castanho? verde? avelã? - respirando tão perto que posso sentir o carbono quente invadir as minhas narinas, enquanto te deitas no travesseiro no meu colo simplesmente me olhando na cama que é minha, mas que te ofereço pra ser tua também.

Foi exatamente desse jeito que nos beijamos pela primeira vez, lembra? Depois de um milhão de teorias bobas, de um milhão de afagar dos meus dedos no teus cabelos, tua mão agarrou pra minha nuca, minha coluna fez uma curva e teus lábios eram meus, enfim.

Meu coração ainda dispara quando te vejo, mesmo depois de tantos erros, tanto tempo separados. Porque não importa o tempo que fiques longe, quando voltas em outro domingo preguiçoso e sempre com hora pra voltar, é como se aquele primeiro dia ainda estivesse aqui. Eu sinto ainda como da primeira vez. Eu te sinto ainda como daquele primeiro olhar que me fez te querer pra mim.

Então minha perna fica dormente e nós dois deitamos lado a lado na cama. E tu continua me encarando com esse teu olho que não decifro, que não me decifra, que não me diz nada, só me dá mais vontade ainda te encontrar o que tem em ti.

E vem teus braços subindo pela curva da minha cintura, pela minha coluna toda curvada pra ti, pela minha nuca e trava ali na raiz dos meus cabelos os carinhos que tu não pode me dar. Teu aperto dói e alivia. Teu afago dói, mas eu quero.

E me beijas como antes, porque tua boca e a minha ainda são imãs e precisam uma da outra. Mesmo com culpa, me beijas com a vontade que reprimiu todo esse tempo. Eu digo que é errado, tu admite mas não pára - ainda bem! - porque não precisas.

Me aperta contra teu corpo com a força de quem não quer me deixar nunca mais, de quem tenta curar tudo que me fere por dentro, com a culpa de quem sabe que me fere e mesmo assim me cura. Eu choro de dor, tu te desesperas pela minha dor, eu te digo o que se deve fazer, tu é covarde pra fazer. Mas, hoje não, hoje tu parece corajoso. Ou sou só eu me deixando iludir de novo pelo teu olho que eu não decifro?

- Porque tu é assim?
- Assim como?
- Tão irresistível.
- Não sou irresistível. Tu que não quer, nem precisa, resistir a mim.

Silêncio

- Me deixa aproveitar meus últimos minutos contigo hoje
- Hoje...
- É, hoje.

Porque hão de vir outros milhares de domingos como estes, certo meu anjo?

sexta-feira, 23 de março de 2012

Vulcão


Te ofereço o meu melhor, que é pra usares do modo que mais te apraz. Se o caso for de um ombro, serei o melhor dos ouvintes; Se o caso for de alegria, eu serei a solução dos teus domingos, das tardes mais tediosas; E - se por acaso ou destino - for paixão, serei melhor que os teus mais puros e utópicos devaneios, porque eu serei real, serei tua.

Só peço honestidade. Peço que me mova, mas só se estiver disposto a aceitar liberar - e encarar com coragem! - esse rio perigoso e torrente que custumo ser. Não me mova caso não possa suportar o vulcão que carrego em mim, não me motive a lutar se tua alma em forma de terra seca não possa suportar as minhas larvas fulmegantes que doem, destroem, mas que trazem os melhores nutrientes para tua alma.

Te ofereço o que há de mais incrível em mim e te peço simplesmente coragem, daquelas coragens de pular sem paraquedas do precípicio e cair num desconhecido mundo fantástico. Porque pra conquistar a felicidade, meu amigo, primeiro você precisa provar que a merece e especialmente que pode suportá-la.

A verdadeira felicidade não é pra quem quer, é pra quem pode suportar construí-la.


"Não me roube a solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia."
- Nietzsche


segunda-feira, 5 de março de 2012

O que quero e procuro


É que o dia parece claro demais hoje, com céu azulzinho e nuvens branquinhas, assim tudo nesse diminutivo que a gente usa como sinônimo de bem-estar da alma. É que essa vontade de partilhar meu bem-estar-comigo-e-o-mundo com alguém cresce tanto dentro de mim que é mesmo impossível que não pegue o celular e tente contato com todo mundo que amo, só pra dizer qualquer coisa boba que os faça rir, só pra me certificar que sabem o quão são especiais pra mim, porque minha alegria é tão mais alegre, meu riso tão mais alto quando partilhado com eles.

Tudo é melhor quando partilhado com quem se ama. 
Até mesmo as maiores bobagens.
E isso eu encontro em todos que amo. 

Cansei de estar aí me fazendo de jarra cheia de vida, conhecimento e alegria preenchendo o vazio das pessoas. Agora eu só quero quem esteja disposto a me completar quando o meu cheio estiver um pouco vazio dos dias tristes e chatos e monótonos, assim como eu sempre vou estar disposta a preencher o pequeno vazio que surga nesse alguém. Agora, eu quero pessoas que já estejam sempre meio cheias e mesmo assim queiram partilhar comigo aquilo que são.

Porque é essas pessoas que estarão dispostas a construir comigo uma vida e uma alegria maior que esta de agora, que eu consigo sozinha. É com elas que o futuro parece um tanto menos chato, tedioso e monótono, porque juntos faremos de tudo isso só outra parte da alegria. 

É mesmo preciso haver o monótono pra que os momentos especiais sejam ainda mais apreciados.  

Então, o que eu quero se mostra cristalino a todos ao meu redor. Enfraquece aqueles fracos que não serão capazes de continuar ao meu lado, mas não me importa, porque dá ainda mais força aos corajosos que são e estão. Dar-me ainda mais forças. 

Pra então eu finalmente encontrar o que eu quero e procuro. 
Sempre ao lado de alguns - poucos, é verdade - mas, verdadeiros.